segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O meu Eu

     Sempre tenho crises para escrever, depende da caneta, papel,à procura da inspiração, em o livro Noite do Oráculo de Paul Auster ,escritor americano de livros de poesia,de ensaios, de memórias , ficção e roteiro de cinema, em que o personagem Sidney Orr, um americano que tenta retornar a sua carreira de escritor, após uma grave doença em que questiona aspectos de sua vida, vivencia essa mesma crise e que sorte consegue encontrar em uma papelaria de um chinês, um misterioso caderno azul,fabricado em Portugal em que sua escrita flui com assustadora espontaneidade,mas que a escrita tem uma misteriosa relação com a sua vida atual, seus conflitos, casamento, relação familiar.

     Desde que li este livro em 2004, vivo a procura de um caderno,caneta que me traga essa inspiração misteriosa,mas não precisa retratar exatamente a minha história, o autor cria um jogo de perspectivas movéis em que nos perguntamos de que lado se está ,de dentro ou fora, ficção ou realidade, em que tempo, passado, presente ou futuro?
    Prefiro escrever à moda antiga, ter a sensação de formar as palavras com a minha mão,imprimir a minha letra e personalidade ao texto e somente depois transcreve-lo, mas existem pessoas que têm crises com teclados de modernos notebooks,netbooks, iPads , a crise é vivenciada por muitos ,só muda o objeto, portanto sinal de que apesar da tecnologia que temos ao nosso dispor, alguns males do ser humano continuam, havendo somente uma resignificação do objeto.
     Hoje, escrevi primeiro em uma folha de papel reciclável e uma caneta 07 azul dos tempos do meu colegial, palavra antiga essa, colegial, será que alguém se lembra da velha caneta 07? Em meio há tantas canetas sofisticadas, mesmo assim a caneta 07 é mais leve e é ainda a que mais consegue se aproximar em acompanhar a velocidade do meu pensamento.
     Portanto, vencendo a crise, depois de alguns anos sem escrever,mais amadurecida, retorno apartir de letras, formar palavras,frases, textos, isso sempre considerei uma verdadeira mágica, saber ler e escrever,mesmo ainda não achando o caderno mágico, mas ainda assim procurando e colecionando diversos cadernos e canetas. Prefiro de ler em páginas impressas e devidamente encadernadas, dispenso as modernas telas de computadores.
     Não há como fugir, quem estiver lendo, isso se alguém se interessar em ler, claro, nestes textos escritos por mim, até mesmo em um comentário sobre um determinado livro, estarei projetando o meu Eu, isto é inevitável em alguém que de alguma forma exponha o seu consciente ou mesmo inconsciente, através de um livro, pintura, escultura, até mesmo um simples texto.Quando nos apaixonamos, estamos projetando no outro, aspectos nossos , que desejamos, que só nós enxergamos e quando houver a retirada desta projeção, iremos nos deparar com o outro em sua essência, o seu verdadeiro Eu, isto determinará o curso do relacionamento para uma decepção amorosa ou uma aceitação do outro como ele realmente é, uma explicaçao para a paixão ser tão efêmera.
     Não preciso criar uma ficção, inventar estórias,questionamentos, conflitos, tenho os meus próprios, o que já dá uma bela história,por que então esconder-me atrás de uma ficção? Principalmente, agora em que vivemos o Espetáculo do Eu em que a privacidade está fora de moda, vista quase como uma aberração, algo exótico.

    Meus saudosos avós, ávidos leitores, iriam dizer que os tempos estão mudando,uma inversão de valores.Para quem não me conhece, sempre me intitulei com uma jovem senhora,uma graçinha que inventei desde que tornei -me mãe, mas agora me foi adicionado o termo balzaquiana, agora sou: uma jovem senhora balzaquiana, sou mulher, mãe e o restante não importa, todo o resto é mutável ,como citei em minha apresentação, mudo o tempo todo,estou em transformação,não sou a mesma de ontem e nem serei amanhã a que sou hoje, estou em processo de individuação, termo da Psicologia Analitica postulado por Carl G. Jung em que há uma tendência instintiva do sujeito a realizar plenamente potencialidades inatas,processo esse, longo e difícil e que não pode ser confundido com o termo de individualismo , tem o seu tempo e é um processo constante,ao longo de toda a vida, dando-se mais na segunda metade dela.

    Li algo interessante esses dias..." O mundo é guiado pelo acaso. A contigênica nos persegue todos os dias de nossas vidas e essa vida pode ser tirada de nós a qualquer momento, sem nenhuma razão". Só para reflexão e para colocarmos em práticar viver em toda a sua plentitude com suas alegrias e dores.


Os livros citados neste blog estarão, muito em breve ,disponíveis em um site, aqui ficará somente para comentários.

2 comentários:

  1. Saludos Cinthia, un abrazo desde México

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  2. Oi, Cinthia, adorei. Sim, também acho que o mundo é guiado pelo acaso, que sempre nos dá uma "mãozinha". É aquela "intuição" trazida pelos ventos... Claro que a nossa história não está pré-definida, não há um futuro certo a nos guiar, nós somos os arquitetos do nosso destino, mas não há como negar que precisamos sempre estar sintonizados com os sons da natureza a cada vez que nos encontramos em bifurcações (e são tantas...)

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